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As capacidades após os 60 anos

Muitas pessoas, e mesmo alguns idosos, se questionam sobre as capacidades de uma pessoa na terceira idade. Mas, afinal, seria tal fase da vida marcada por um acúmulo

de incapacidades, principalmente pela intelectual? Seriam os idosos improdutivos profissionalmente? Seria a época de apenas descansar? 

 

Felizmente, isso está longe de ser verdade. Existem, inclusive, estudos que comprovam que é na velhice que muitos profissionais vivenciam sua fase mais produtiva. Um desses estudos me chamou bastante a atenção. Foi feito há uns dez anos na Espanha. Os autores, ao analisarem a vida de diversos profissionais de sucesso, chegaram à conclusão que entre historiadores, filósofos e escritores, era após os 60 anos que sua produção ganhava mais significado. O mesmo valeu para cientistas e inventores famosos, que tiveram mais da metade de sua produção após os 60 anos.

Também entre os artistas, cerca de 20% de sua obra foi feita na velhice. Outro estudo que investigou a capacidade intelectual de idosos, deixou bem claro que a media etária dos ganhadores do Prêmio Nobel não é 20, 30 ou 40 anos... mas sim 63 anos!

Basta limparmos um pouco o preconceito das lentes dos óculos para enxergarmos o quanto somos liderados por idosos e o quanto eles são importantes para o sucesso de nossa sociedade.  Ao olharmos para quem possui cargos de direção em empresas ou mesmo para nossos governantes, logo percebemos: a maioria já passou dos 60 anos. Nos últimos 20 anos de democracia, somos comandados por presidentes idosos! Nossa presidenta Dilma tem 64 anos! E isso ocorre em diversos outros países. Nas universidades, ambiente onde se exige muito intelectualmente, ocorre o mesmo: cargos de chefia e professores chefes são na  maioria... idosos.

Atribui-se essa capacidade produtiva aumentada na terceira idade à chamada inteligência cristalizada, que é um tipo de inteligência relacionada com a experiência. Jovens com certeza conseguem assimilar conhecimentos mais rapidamente e fazer muitas coisas ao mesmo tempo (a chamada inteligência fluida).  Porém, é só com o passar do tempo que se adquire maturidade, conhecimento dos “atalhos” da vida e a entender a si próprio e aos outros – infelizmente, ninguém vem com manual de instruções e se demora muito a aprender como funcionamos! Há pouco tempo, uma paciente de 60 anos, advogada, queixou-se que já não tinha o mesmo pique de antes. Ao se comparar com os estagiários de 20 e poucos anos se dizia com dificuldades em acompanhar a velocidade com que eles faziam suas tarefas. Para tranquilizá-la perguntei: você acha que um de seus estagiários conseguiria fazer as suas tarefas de chefe do escritório? Imediatamente ela respondeu que não e sua angústia com a situação desapareceu. Já a atendi mais de dez vezes após essa conversa, e ela nunca mais tocou nesse assunto. Ficou, nesse exemplo,  bastante clara a diferença nos tipos de inteligência que comentei anteriormente.

Outra característica que o idoso adquire e que lhe favorece profissionalmente é a prudência. Estudos mostram que, comparando com jovens, idosos apresentam menor quantidade de erros em testes que demandam determinado grau de cautela. Essa habilidade é importantíssima para muitas profissões, principalmente nas que envolvem tomadas de decisão e gerenciamento de pessoas, o que acontece nos cargos de chefia. Hoje, vem se tornando comum que pessoas aposentadas sejam convidadas a retomar seus postos de trabalho ou mesmo para assumir posições de liderança.

Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, arquiteto que projetou Brasília, nasceu em 15/12/1907. Recebeu em 1998 os prêmios Pritzker de Arquitetura e Medalha de Ouro do RIBA, concedida pelo Royal Institute of British Architects em nome do monarca britânico, em reconhecimento a um indivíduo ou grupo por contribuições substanciais à arquitetura internacional. Hoje com 105 anos, Niemeyer continua projetando.

 

José Saramago, escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista, teatrólogo, ensaísta e poeta nasceu em 16/11/1922. Suas melhores obras foram escritas a partir dos seus 60. Faleceu em 18 de Junho de 2010, com 87 anos. Recebeu o premio Camões aos 73 anos e o Prêmio Nobel de Literatura aos 76 anos.

 

 

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053

Mestre em Educação - Clínico Geral - Especialização em Geriatria pela PUCRS

 

Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN