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Como é feito o diagnóstico de Alzheimer

Estabelecer o diagnóstico da Doença de Alzheimer não é um procedimento médico simples. Imagine o contexto de uma família fragilizada e amedrontada, somado a tantas outras doenças

envolvidas ao mesmo tempo. Hoje, porém, contamos com diversas orientações padronizadas que dão suporte nesse processo de decisão. O diagnóstico é baseado em critérios internacionais, bastante discutidos por especialistas e que oferecem um grau de precisão confiável, algo em torno de 90% de acurácia. 

Ao ler sobre o assunto, entretanto, você encontrará frequentemente o termo provável. Isso porque se admite que, por enquanto, o diagnóstico com 100% de exatidão só seria possível após a análise post mortem do cérebro. Ou da análise do tipo biópsia de uma parte do cérebro de uma pessoa viva, ou seja, totalmente inviável! Com isso, para preservar a honestidade científica, emprega-se o termo provável caso de doença de Alzheimer. 

Resolvi abordar esse tema porque percebo que há um desconhecimento muito grande do público em geral e de colegas médicos de como é feito esse diagnóstico. Além disso, também considerei importante incentivar a procura do médico para elucidar qualquer dúvida em situações de alteração no funcionamento cognitivo. Caso você ou seu companheiro, seu pai ou irmão esteja apresentando falhas de memória, isolando-se dos de mais ou cometendo erros inesperados, procure a ajuda do médico. Muitas vezes, uma pista como essas pode ser a diferença em se conseguir detectar e frear a doença em tempo hábil. Hoje, sabemos que quanto antes se inicia o tratamento medicamentoso e as ações não-farmacológicas, maiores são as chances de adiar quadros de dependência funcional completa e o caos familiar a ele associado. 

Quanto aos critérios diagnósticos para a doença de Alzheimer, eles foram recentemente revisados e modificados, em 2011. Resumidamente, ele é composto pela coleta detalhada da história do paciente, sempre que possível com a participação de um familiar ou de pessoa próxima – processo esse que chamamos de anamnese. Num primeiro momento ou na segunda consulta, o médico realiza uma série de testes cognitivos para avaliar memória, atenção, orientação espacial e função executiva, como planejamento e julgamento. O exame mais usado é o mini-exame do estado mental de Folstein, conhecido corriqueiramente por mini-mental e abreviado como MEEM. Trata-se de uma ferramenta simples, que toma cerca de 10 minutos. São feitas perguntas sobre data, hora, localização, contas simples, memorização de palavras, leitura e cópia de figuras.  Outros testes utilizados são a fluência verbal (quando se pede para o paciente falar nomes de animais ao longo de 1 minuto), teste do desenho do relógio, lista de palavras e de figuras. Algumas vezes pode ser necessária uma bateria de testes mais complexa, chamada avaliação neuropsicológica. 

Um aspecto muito importante desse momento de diagnóstico da doença de Alzheimer é detectar se o paciente está apresentando prejuízos em seu funcionamento diário, no trabalho, nas tarefas de casa ou nos relacionamentos sociais. Isso também pode ser quantificado em escalas próprias.  O comprometimento na funcionalidade é peça-chave no diagnóstico da doença. 

Cabe também ao médico, ao mesmo tempo em que caracteriza e classifica o grau de comprometimento cognitivo e suas repercussões,  excluir outras doenças e condições que podem estar causando o quadro. É nesse momento que exames de laboratório são importantes: avaliação de eletrólitos, pesquisa de sífilis terciária, deficiência de vitaminas ou alterações hormonais, por exemplo. Desde 2011, além dos exames de sangue, deve-se realizar um exame de imagem do cérebro, uma tomografia computadorizada ou, preferencialmente, uma ressonância nuclear magnética. Os exames que detectam alterações no líquido que envolve o sistema nervoso, chamado líquor ou líquido cefalorraquidiano, são necessários e úteis apenas em ambientes de pesquisa, não sendo indicados para o cotidiano dos atendimentos ambulatoriais. 

O que percebo no consultório, ao atender pacientes com queixas cognitivas, é que eles já vinham apresentando sinais claros de comprometimento há meses ou anos. Acredito que essa demora em perceber o problema ocorra porque ainda há muitas pessoas que atribuem situações de esquecimento ou desorientação ao envelhecimento normal, algo que seria próprio da idade. Ou devido ao pouco desafio intelectual ao qual, as pessoas idosas muitas vezes são submetidas. Muitas vezes os filhos acham que a memória de seus pais está preservada pelo fato de se lembrarem de acontecimentos vivenciados há décadas. Não sabem eles, no entanto, que o mais importante é a capacidade de aprenderem e memorizarem aquilo que é novo, que acontece recentemente. 

O ideal é ter sempre avaliações médicas frequentes e caso isso não seja possível ou de hábito, qualquer sinal de alteração em memória, atenção, velocidade de raciocínio ou isolamento social deve ser prontamente investigada e o médico pode ajudar. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico da Doença de Alzheimer, maiores as chances do paciente e da família preservarem ao máximo suas qualidades de vida. 

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053
Mestre em Educação - Clínico Geral - Especialização em Geriatria pela PUCRS
Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN