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Andropausa é a versão masculina da menopausa

Calorões, irritação, ganho de peso, piora na autoestima, perda de libido. Estamos falando dos sintomas da menopausa? Na verdade, não. Com certeza,

essas são queixas frequentes em mulheres na meia-idade, porém, há um fenômeno equivalente que pode acometer os homens.

Corriqueiramente uso “andropausa”, porém cientificamente o termo correto é hipogonadismo secundário ou distúrbio androgênico do envelhecimento masculino (DAEM). Existem diversas diferenças entre esses dois fenômenos biológicos. Um fundamental é que, ao contrário do destino das mulheres, não são todos os homens que sofrem ou sofrerão com o distúrbio.

Sabe-se que, com o passar dos anos, em todos os homens acontece uma queda nos níveis de testosterona. Estima-se que, após os 30 anos, essa redução ocorra numa taxa de 0,4 a 2% ao ano - e isso é normal.  O grande problema é que algumas doenças resultam em disfunção das sensíveis células testiculares que produzem o hormônio ou, então, no eixo cerebral que o regula, potencializando essa queda. 

As estatísticas variam muito. Algumas chegam a apontar que até um em cada quatro homens acima dos 60 anos apresenta essa condição. É uma percentagem bastante elevada, só que, ao analisarmos a crescente onda de diabetes e obesidade, ela pode, sim, ser facilmente justificada.

Clinicamente, diagnostica-se essa doença quando somamos as queixas dos pacientes aos resultados laboratoriais repetidos em, pelo menos, duas ocasiões. Acontece que grande parte das pesquisas leva em consideração apenas os resultados dos exames e em única dosagem. Além disso, os pontos de corte também variam: os limites inferiores de testosterona total ficam entre 280 e 400 ng/dl, não levando em consideração a idade do paciente, ou níveis de testosterona livre e estradiol.

SINTOMAS

Destaco principalmente os da esfera sexual, como perda de libido, diminuição no vigor das ereções e ausência de ereções matinais. Há também associação com diminuição do tamanho e até mesmo deformidade do pênis. Outra pista de que os níveis de testosterona podem estar baixos é a pouca resposta ao Viagra ou similares. Geralmente, os pacientes nesse estágio chegam ao consultório desesperados e desacreditados.

No entanto, os sintomas do DAEM estendem-se a quase todos os aspectos relacionados à qualidade de vida do homem, como energia física, avidez mental, manutenção do estado de humor e motivação. Muitas vezes, sobrepõem-se aos apresentados em outra doença muito comum, que é a depressão - exigindo muita atenção diagnóstica tanto para clínicos quanto para psiquiatras. Irritabilidade, insegurança, tristeza, baixa autoestima, esquecimento e redução no prazer no dia a dia são sintomas comuns às duas doenças.

Fisicamente, sabe-se que baixos níveis de testosterona se relacionam a ganho de peso - em especial de gordura visceral -, desenvolvimento de placas ateromatosas (de gordura) nas artérias, piora na resistência insulínica (que leva ao aumento da glicemia), diminuição da densidade óssea e perda de massa muscular.  Um sinal que pode servir de alerta é a queda dos pelos nas pernas.

A medida que resultados de pesquisas indicam o crescimento no número de pacientes com a doença e em tratamento, cresce a preocupação quanto à medicalização excessiva de uma condição própria da velhice, à exposição de pacientes a riscos e à influência da indústria farmacêutica no fenômeno – afinal, são bilhões de dólares envolvidos. Percebo que o grande ponto que envolvia a segurança da terapia de reposição com testosterona foi esclarecido e isso impulsionou muito tanto o diagnóstico quanto a prescrição. Trata-se do mito associando a reposição do hormônio com o risco aumentado de desenvolvimento do câncer de próstata. Sabe-se, hoje, que existe uma ampla segurança da reposição nessa questão, sendo, inclusive, indicada para pacientes que tiveram a doença e fizeram tratamento com radioterapia.

BUSQUE AUXÍLIO

Urologistas, endocrinologistas, geriatras e clínicos com experiência no assunto devem ser procurados para que cada caso seja bem esclarecido e acompanhado. Costumo atender esses pacientes em parceria com urologistas.

Para aqueles homens preocupados em não desenvolver a doença, oriento a manutenção de hábitos alimentares saudáveis e prática regular de exercício físico. Manter os níveis de glicemia (açúcar) e ferro dentro dos limites recomendados também são duas estratégias preventivas válidas.

Sobre as vantagens do tratamento, relato que o ganho em qualidade de vida dos pacientes é algo que realmente chama atenção, além disso, a reposição pode melhorar o controle da diabetes e favorecer o emagrecimento. Porém, a supervisão médica deve ser atenta e valorizada.

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053
Mestre em Educação | Clínico Geral - Especialização em
Geriatria PUCRS | Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN