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Por que os homens não cuidam da saúde?

A maioria dos homens só vai ao médico por insistência feminina. Quem faz essa afirmação é o urologista João Schiavini, responsável pelo setor de Andrologia do Hospital Pedro Ernesto,

no Rio de Janeiro. “As mulheres são verdadeiras heroínas. Marcam consultas, acompanham os maridos e namorados ou vêm sozinhas com os exames. Encontrei muito câncer de próstata graças a elas”, relata ele. A experiência do médico bate com a de cada uma de nós em casa e foi confirmada pela maior pesquisa sobre hábitos de vida dos brasileiros, realizada entre julho e dezembro do ano passado pelo Ministério da Saúde com 54 mil pessoas das 26 capitais e do Distrito Federal. Os técnicos concluíram que comportamentos saudáveis – como aumentar o consumo de frutas – são muito mais comuns entre as mulheres.

Um claro exemplo da diferença entre os sexos aparece no controle do peso. Segundo a coordenadora da pesquisa, a médica sanitarista Deborah Malta, 38,8% das brasileiras estão acima do peso, contra 47,3% dos brasileiros. Entre as mulheres que estudaram por mais de 12 anos, o índice cai para 31,2%. Nos homens, porém, ocorre o inverso: entre os mais graduados, o excesso de peso sobe para 55,9%. Uma das explicações para a disparidade: os homens com alta escolaridade são justamente os mais sedentários. “Ter estudo não faz com que se tornem mais zelosos”, diz Deborah. “É preciso disseminar entre eles informações sobre a importância de se cuidar.” Os dados indicam, ainda, que as mulheres fazem consultas médicas em números superiores no sistema público e no setor privado. Elas também contratam mais planos de saúde do que seus parceiros. 

Eles têm que ter a força

A diferença no cuidado com o corpo é atribuída a fatores culturais. “A menina é estimulada a procurar o ginecologista desde o início da menstruação e a fazer exames preventivos a partir da primeira relação sexual. Já o rapaz só vai ao médico quando está doente”, compara Adson França, diretor do Departamento de Ações Estratégicas e Programas do Ministério da Saúde, que agendou para agosto a primeira Semana Nacional de Atenção e Promoção à Saúde do Homem.

A campanha terá o objetivo de conscientizar o sexo masculino sobre a urgência de adotar hábitos saudáveis e de realizar exames preventivos. “Se o homem tiver acesso a campanhas educativas que falem a linguagem dele e encontrar ambulatórios médicos que funcionem aos sábados e após as 18 horas, ele começará a se cuidar”, aposta Sidney Glina, que até dezembro presidiu a Sociedade Brasileira de Urologia.

Meninos ainda não choram

Antes disso, é preciso quebrar alguns mitos. O psicanalista Sócrates Nolasco, autor de quatro livros sobre o universo masculino, afirma que “ir ao médico significa reconhecer a própria vulnerabilidade, o que é incompatível com a imagem de virilidade valorizada na sociedade”. Ele explica que o conceito de fortaleza atendeu às necessidades da espécie enquanto os machos eram caçadores, mas, hoje, esse padrão não tem mais razão de ser. “Olhar para a saúde significa admitir que o corpo não é perfeito”, observa Nolasco. Para mudar de atitude, melhorar a dieta, fazer exercícios e check-ups regulares, o homem precisa perder a onipotência, o que, segundo o psicanalista, só acontece depois de uma situação-limite, quando ele adoece ou perde um amigo e se vê obrigado a aceitar que é mortal.

Conscientemente ou não, a mulher alimenta a onipotência do homem, como revela a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil do International Stress Management Association, organização voltada para a prevenção e o tratamento do stress. “Ainda hoje, quando o garoto chora, a mãe diz: 'Homem não chora' e o condiciona a não expressar as emoções.” Segundo a psicóloga, sintomas físicos acabam sendo interpretados na família como sinal de fraqueza. Como se não bastasse, ao se machucar, o menino perde autonomia. Com arranhões e pequenas contusões, não poderá sair para jogar futebol. “Aos poucos, ele vai aprendendo a não revelar a dor, também por medo de perder benefícios. Por isso, nem pede ajuda”, afirma Ana Maria. “A atitude mais freqüente do homem é negar ou desqualificar os sintomas. Se sente dor nas costas, toma um relaxante muscular; se o estômago incomoda, engole um antiácido e segue em frente. Diz que não tem tempo, culpa a agenda lotada e posterga a ida ao médico.”

Ao escrever o livro ESTRESSE MASCULINO – UM GUIA PARA IDENTIFICAR E CONTROLAR O ESTRESSE DOS HOMENS (EDITORA ARTES E OFÍCIOS), de 1993, relançado em 2005, Ana Maria observou que falta aos homens um termômetro: “Eles não conseguem perceber quando o stress causa desequilíbrio e, assim, não agem de maneira preventiva. Quando se dão conta, já estão seriamente doentes”. Não é de estranhar que distúrbios passíveis de controle sejam descobertos em fases bem avançadas, quando já produzem estragos. 

Conversa, não cobrança

Como a mulher sabe ouvir o alarme, pode agir para evitar perigos que rondam o par. “Os melhores resultados são atingidos quando ela dá apoio e se mostra preocupada com o bem-estar do marido, do casal e da família”, diz o urologista João Schiavini. “Com a ajuda, o homem adere à dieta e até se lembra de tomar os remédios.” Mas a participação deve ser agradável: “Já tive paciente que voltou ao consultório sem a esposa porque não suportava ser criticado por ela na minha frente”.

O importante é conversar, evitando cobranças e acusações. Ana Maria Rossi lembra que, por melhor que seja a intenção, não é possível ajudar quem não quer ser ajudado. Nesse caso, a mulher precisa controlar a ansiedade ou acabará frustrada. Mas, se quiser obter avanços, deve focalizar o lado positivo. “Em vez de dizer que ele está gordo, deve destacar quanto ganhará com a mudança na alimentação”, sugere a psicóloga.

Dr. João Luiz Schiavivi - Urologista
CRM 357243-RJ