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As vulnerabilidades da pessoa idosa ao HIV/AIDS

O envelhecimento é uma conquista da sociedade brasileira e reflete, de uma maneira geral, a melhora das condições sociais do país. Hoje, quase 24 milhões de brasileiros

e brasileiros tem mais de 60 anos. Os antigos estereótipos associados à velhice, como lugar da quietude, não se aplicam a esta geração atual de idosos e idosas, que vivendo mais e em melhores condições, tem desafiado o tempo das políticas públicas em dar respostas oportunas a novas demandas de saúde.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, entre os anos de 2001 e 2011 o número de casos novos de AIDS em maiores de 60 anos triplicou. Uma epidemia que tradicionalmente se relacionava à juventude ganhou em 10 anos uma dimensão sanitária importante na área da geriatria e gerontologia. Reconhecidamente os serviços de saúde e suas equipes de trabalho tem tratado, com relativa invisibilidade das vivências da sexualidade na velhice, em parte isto acontece porque tradicionalmente o cuidado da saúde sexual dos indivíduos está associado ao conceito de vida reprodutiva.

Alguns fatores contribuem para que as pessoas idosas estejam vulneráveis, neste momento da história, às Doenças Sexualmente Transmissíveis e à infecção pelo vírus do HIV. Existem diversos mitos associados à sexualidade após os 60 anos. Estes mitos não correspondem à realidade e relacionam-se às dificuldades dos serviços de saúde em cuidar da saúde sexual da população idosa. Entre os principais mitos, destacamos o reconhecimento de um padrão heteronormativo das vivências sexuais e a dificuldade de reconhecimento de que a pessoa idosa pode ter prazer da forma que considerar preferível. A ampliação de acesso a medicamentos para distúrbios eréteis (Viagra, por exemplo) e a baixa adesão dos idosos à camisinha também é importante para compreendermos a epidemia de HIV/AIDS nesta população. Hoje vivemos mais tempo, com melhor qualidade e com oportunidades de vivência da vida sexual por um tempo maior e as políticas públicas demoraram para se dar conta deste contexto e lançar ações estratégicas de trabalho para reduzir estas vulnerabilidades. No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde lançou em 2014 a campanha: Cuidados com a saúde não tem idade. Use camisinha e aproveite o que a vida tem de melhor!

A campanha propõe uma conversa sobre sexo seguro com as pessoas idosas e é pioneira no Brasil. A conversa que propomos tem vários pontos importantes.

Em primeiro lugar é preciso falar da sexualidade e da prática sexual da pessoa idosa como coisas naturais e saudáveis. Em segundo é preciso saber que as vivências da sexualidade diminuem com o passar do tempo de maneiras distintas entre homens e mulheres. Para as mulheres as causas da diminuição da atividade sexual estão relacionadas à ausência de parceiro (viuvez, divórcio ou doença do cônjuge) e para os homens relacionadas às situações de diminuição da potência sexual. 

Listamos no quadro a seguir, os principais sentimentos relacionados à vivência da sexualidade e das práticas sexuais após os 60 anos: 

Sentimentos da mulher que envelhece

  • Perda da feminilidade; 
  • Medo de não lubrificar; 
  • Dificuldades de expor seus sentimentos;
  • Vergonha do corpo.

Sentimentos do homem que envelhece

  • Medo de falhar; 
  • Dificuldade de viver a sexualidade sem os genitais; 
  • Falta de conhecimento sobre o envelhecimento.

Entender todas estas questões é fundamental para o desenvolvimento de ações de saúde, que garantam aos idosos e idosas as informações e os cuidados que necessitam para a plena vivência da sua vida sexual. O que precisamos sempre nos lembrar, é: 

•Que a sexualidade das pessoas idosas é natural;
•Que as pessoas idosas tem direito ao prazer;
•Que as pessoas idosas podem escolher as formas de prazer que querem ter;
•Que sexo é bom e faz bem para a saúde;
•Que o sexo oral, vaginal e anal requerem o uso da camisinha como meio de proteção das Doenças Sexualmente Transmissíveis;
 

Tire suas dúvidas sobre Saúde da Pessoa Idosa, Sexualidade e HIV/AIDS

O que é o HIV e a AIDS?

HIV é uma sigla em inglês que designa o vírus da imunodeficiência humana que é causador da AIDS, este vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de todas as doenças. 

Como, eu idoso ou idosa, posso me prevenir das Doenças Sexualmente Transmissíveis e do HIV/AIDS?

Para se prevenir use sempre e corretamente a camisinha (feminina ou masculina). Use sempre agulhas e seringas descartáveis, para fazer tatuagem, por exemplo. A prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis é igual à do HIV/AIDS. Algumas Doenças Sexualmente Transmissíveis aumentam em 18 vezes a chance de infecção pelo HIV.

Como saber se estou infectado(a) pelo HIV?

Saber do contágio pelo HIV precocemente aumenta a expectativa de vida do soropositivo. Quem busca tratamento especializado no tempo certo e segue as recomendações do médico, ganha em qualidade de vida. O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue. No Brasil, temos os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em até 30 minutos, colhendo uma gota de sangue da ponta do dedo. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento. É possível saber onde fazer o teste pelo Disque Saúde (136). 

Diagnosticando o HIV na Pessoa Idosa.

Às vezes, uma fragilidade do sistema imunológico em pessoas com mais de 60 anos pode dificultar o diagnóstico de infecção por HIV. Isso ocorre por que, com o envelhecimento, algumas doenças tornam-se mais comuns e seus sintomas podem se confundir com os da infecção pelo HIV. Como vimos, tanto a pessoa idosa quanto os profissionais da saúde tendem a não pensar em AIDS e, muitas vezes, negligenciam a doença nessa faixa etária. 

Onde buscar gratuitamente a camisinha?

A camisinha masculina pode ser retirada sem custo em qualquer posto de saúde do Brasil. Para informações sobre a distribuição gratuita da camisinha feminina ligue 0800-54-10-197 e informe-se. Em qualquer posto de saúde você também pode solicitar gratuitamente sachês de gel lubricante. 

Priscilla Lunardelli
Assistente Social
 
Maria Cristina Berleze
Médica Geriatra
 
Coordenação Estadual de Saúde do Idoso
Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul