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Saúde da pessoa idosa no Sistema Único de Saúde

O Brasil caminha a passos largos para um perfil demográfico mais envelhecido, caracterizado por uma transição epidemiológica, onde as doenças crônico-degenerativas ocupam

lugar de destaque. Essa rápida transição traz grandes desafios, pois é responsável pelo surgimento de novas demandas de saúde, especialmente a “epidemia de doenças crônicas e de incapacidades funcionais”, resultando em maior e mais prolongado uso de serviços de saúde.

A maioria dos idosos é portadora de doenças ou disfunções orgânicas que não estão associadas à limitação das atividades ou à restrição da participação social. Assim, mesmo com doenças, o idoso pode continuar desempenhando os papeis sociais. O foco da saúde está estritamente relacionado à funcionalidade global do individuo, definida como a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. A pessoa é considerada saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinha, de forma independente e autônoma, mesmo que tenha doenças.

Bem-estar e funcionalidade para a população idosa torna-se equivalente. Representa a presença de autonomia (capacidade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras) e independência (capacidade de realizar algo com os próprios meios), permitindo que o individuo cuide de si e de sua vida. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), Portaria GM nº 2.528, de 19 de outubro de 2006 considera que “o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença orgânica”. A mesma portaria, reconhece que a atenção à saúde do idoso tem como porta de entrada a Atenção Primária em Saúde (APS). A Estratégia de Saúde da Família (ESF) surge no Brasil como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial a partir da APS. As ESF precisam estar preparadas para lidar com as questões relativas aos processos de envelhecimento, particularmente no que concerne à dimensão subjetiva da pessoa idosa e classificação de risco e fragilidade do idoso.

Nesse sentido, um dos desafios centrais do Rio Grande do Sul é organizar, pactuar e implantar junto aos municípios uma linha de cuidados integrais (promoção, prevenção, tratamento e reabilitação), que proponha a organização de itinerários terapêuticos coordenados por intermédio de equipes multiprofissionais, com atuação interdisciplinar, priorizando o atendimento à parcela de idosos com risco maior de fragilização.

Articular ações e identificar idosos vulneráveis devem ser atividades norteadoras das gestões estaduais e municipais no que se refere à rede de cuidados a pessoa idosa.  

Maria Cristina Cachapuz Berleze
Médica geriatra
Seção Saúde do Idoso – SES RS