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Ortorexia: quando o saudável faz mal

Revisando alguns conceitos de nutrologia durante um final de semana de estudos, deparei-me com um interessante parágrafo sobre ortorexia.

Você sabe do que se trata? Será que é mais uma doença que médicos inventam para rotular as pessoas ou transformar todos em doentes, logo possíveis clientes?

Não é bem por aí. Trata-se de um “distúrbio alimentar” causado pela obsessão em alimentar-se “corretamente”. Explico agora os porquês das aspas. Da primeira: coloquei distúrbio porque ainda não se trata de uma doença ou transtorno alimentar bem definido. Já a segunda tem a ver com a percepção das pessoas sobre o correto ou o saudável. Quando o quadro de ortorexia está instalado, a distorção do conhecimento sobre alimentação ou a falta dele sempre está associada.

No consultório, é frequente encontrar adultos magros, preocupados com seu bem-estar e que, muitas vezes, fazem um investimento financeiro significativo para preservar hábitos alimentares por eles considerados saudáveis. Muitas vezes, tumultuam toda a rotina familiar com suas crenças e, quase sempre, queixam-se de cansaço e desânimo.

Ao escutar com interesse e questionar objetivamente sobre seus hábitos alimentares, muitas vezes chego a dietas até bem intencionadas, mas com erros grosseiros: falta de micronutrientes (vitaminas e minerais) e até de macronutrientes, em especial proteína e gordura. E o que é pior: erros que levam a carências subclínicas combinados com exercício físico pesado - o que os potencializa, piorando a queixa de cansaço.

Como se trata de uma condição que ocasiona problemas de saúde, acredito que não é só mais um termo médico para rotular pessoas ou algo do gênero, como se fosse um modismo. Se a ortorexia será considerada uma doença nos próximos anos, não tenho como afirmar - considero que as chances são grandes pelo crescente número de pessoas que a apresentam. O envelhecimento da população tem levado ao surgimento de pessoas realmente preocupadas com a saúde - às vezes, a ferramenta dessa superpreocupação deixa de ser o bisturi do plástico e vira a própria boca.

Erros principais

Os principais erros conceituais dos pacientes com ortorexia são: consumir proteína faz mal e prejudica os rins; consumir leite é sempre nocivo, assim como glúten; uma dieta saudável é aquela com quase 0% de gordura; colesterol é demoníaco; e, por último, que se consegue atingir facilmente níveis saudáveis de ingesta de proteína, cálcio, ferro ou vitamina B12 através dos vegetais.

Cabe deixar bem claro que não considero vegetarianos como ortoréxicos! Há um receio quanto à classificação do vegetarianismo como forma de ortorexia. Percebo que muitos vegetarianos não buscam auxílio profissional e acabam errando em suas dietas, não por obsessão em fazer a coisa certa, mas sim falta de orientação correta. Uma dieta vegetariana bem feita exige muito mais dedicação e cuidados do que se imagina corriqueiramente. Para essas pessoas, a dica é que pelo menos façam os exames de sangue periodicamente.

Vamos recapitular para não deixar aqueles principais erros passarem batidos:

Proteína não faz mal e jamais fará! Precisamos pelo menos de um grama de proteína por quilo de peso ao dia (exemplo: se peso 70 quilos, logo preciso de 70 gramas de proteína ao dia). Esse valor aumenta com a prática de exercício físico (quando pode chegar a até 1,8g/kg/dia) e outras condições;

Nem todos são intolerantes à lactose! O leite é um alimento riquíssimo, com diversas propriedades como fonte de proteínas, cálcio, fósforo e gordura;

Precisamos que quase 30% da energia que ingerimos venha das gorduras! - cerca de 50 a 55% dos carboidratos e 15 a 20% das proteínas! 

O colesterol é fundamental para a produção de hormônios!

O que fica disso tudo? Procure um médico nutrólogo ou um nutricionista - não fique apenas no Google. Converse. Leve suas dúvidas. É legal querer ser saudável e é do ser humano achar que entende um pouco sobre medicina e saúde - que de médico (ou nutricionista) e de louco todo mundo tem um pouco. No entanto, procurar uma orientação não parece a melhor pedida?

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053
Mestre em Educação | Clínico Geral - Especialização em Geriatria PUCRS
Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN