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OPINIÃO: Prioridades entre prioritários

A evolução da legislação brasileira veio acompanhada de mudanças visando ampliar a segurança, o conforto e a acessibilidade dos menos favorecidos,

daqueles que carecem de necessidades especiais e de quem enfrenta dificuldades, especialmente de locomoção. A este grupo, em momentos diferentes, foram incluídos os deficientes físicos, visuais e mentais, os idosos, as gestantes e, mais recentemente, as mulheres com bebês no colo.

Foram conquistas inegavelmente importantes para todos estes grupos, possibilitando que sua condição especial fosse respeitada em espaços diversos, como na reserva de vagas em estacionamentos, de assentos no transporte coletivo e de atendimento prioritário em lotéricas e agências bancárias.

Nos tempos atuais, o tema concessão de prioridades requer dois tipos de reflexão. A primeira - e mais óbvia - diz respeito ao cumprimento da lei no campo prático. Será que os espaços destinados a estes grupos são sempre respeitados? Uma rápida ida ao banco, ao supermercado ou mesmo tomar um trem nas novas estações em Novo Hamburgo são ações que nos ajudam a entender como a aplicabilidade da legislação passa longe da prática. Há, ainda, muito desrespeito e insensibilidade para com o próximo. De quebra, sobram desculpas esfarrapadas como “pressa”, “descuido” e até “desconhecimento”.

É no mínimo curioso perceber que aqueles que hoje desconsideram o aspecto prioritário serão os próximos a exigir que seus direitos sejam respeitados. Ou será que o jovem casal que troca beijos apaixonados no assento do trem enquanto um idoso viaja em pé aceitará passivamente tal condição quando estiver esperando um filho? Ou será que aquele motorista de meia idade que estaciona a sua poderosa caminhonete na vaga de idoso se sentirá bem quando, na terceira idade, o espaço a ele reservado for ocupado por um jovem?

Como é possível observar, estamos diante de um problema cultural grave. Se, em uma fila no banco, houver uma gestante, uma mãe com seu bebê no colo, um deficiente físico e um idoso, quem terá a prioridade entre os prioritários? O critério, neste caso, poderia ser a ordem de chegada, mas o bom senso não recomendaria ceder o lugar na fila ao cidadão em condições menos favorecidas no momento? Reside aí o segundo aspecto que merece reflexão atualmente.

Será que um idoso jovem e saudável, recém ingressando na terceira idade, precisa mesmo daquela vaga no estacionamento ou na fila prioritária? Será que aquela gestante com um mês de gravidez não está em boas condições físicas para ceder seu lugar a um deficiente que aguarda atrás dela com dificuldade? Você, que já passou dos 60, faça esta reflexão internamente. Veja que bela oportunidade a vida lhe deu, de continuar a fazer gentilezas mesmo com idade avançada. Além de fazer muito bem à autoestima, lhe dá ainda mais razão de questionar aqueles que não respeitam a sua prioridade e agem incorretamente.

Vivemos uma crise de valores, em um mundo no qual todos querem levar vantagem, sem olhar para o próximo e se questionar se ele não carece de mais atenção e cuidados do que nós. Saber fazer uso racional da sua prioridade entre tantos prioritários é um ato humano e elogiável. Espalhe e pratique essa ideia.