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Papo cabeça: cheguei aos 60 e agora, pessoal? 

Quando cheguei aos 60 anos, comecei a prestar mais atenção em conceitos como Terceira Idade, velhice, Melhor Idade, aposentado, emérito, inatividade... 

O que se pretende dizer com Terceira Idade? Pois, se existe uma Terceira Idade, devem existir uma Segunda e uma Primeira Idade. Não é mesmo? Assim sendo, quando termina a Primeira Idade? Quando começa a Segunda Idade? Com a longevidade sendo cada vez mais alcançada pelas pessoas, não se deveria falar em Quarta Idade, em Quinta Idade? O que dizer da velhice? Aliás, esse conceito me parece mais familiar porque também conhecemos e já determinamos outras fases na vida, como infância, adolescência, juventude, vida adulta... então, seguindo a senda aberta pelos especialistas quero crer que a velhice não é um conceito pejorativo ou depreciativo, afinal, todas as pessoas podem chegar à velhice. Infelizmente, muitos jovens, rapazes e gurias, se perdem no caminho, vítimas de acidentes de carro, vítimas de drogas, vítimas de doenças... mas podemos afirmar, considerando as expectativas de vida recentemente publicadas, que as pessoas podem projetar suas vidas para além dos  30, 40, 50, 60, 70 anos.  E para tanto, não é preciso residir em Veranópolis, na serra gaúcha, ou em qualquer outra cidade com altos índices de qualidade de vida. Basta ser receptivo ao tempo que se vai somando ao longo da vida, cuidando da alimentação, das relações de amizade, das atividades  preferenciais...

Muitas pessoas gostam de usar a expressão Melhor Idade para não falar em velhice. Melhor Idade? Coisa nenhuma! Qual é a melhor idade no decurso da nossa vida? As crianças podem nos assegurar que a infância é a melhor idade, onde são tratadas com carinho, com cuidados, com exemplos... E os jovens? Eles também podem nos assegurar que a melhor idade é a deles onde respiram liberdade, aventuras, sair de casa, projetar o futuro... E as pessoas adultas não poderiam dizer o mesmo quando trabalham com alegria  e satisfação na  profissão escolhida, no trabalho conquistado por concurso ou seleção, quando compram o carro dos seus sonhos, ou casam com a pessoa pela qual as pernas tremem quando sua voz é ouvida? Então, podemos concluir que caracterizar a vida após os 60 anos somente como a Melhor Idade é injustiça que se comete com as outras idades! Também na velhice há situações boas a serem destacadas e valorizadas.  A melhor idade não é privilégio apenas de quem chega aos 60, aos 70, aos 80 anos... Há muita coisa boa ao longo da jornada na vida de cada pessoa.

A palavra aposentado tem sua origem em “aposento”, ou seja, um cômodo da casa, um quarto, uma sala, enfim, a casa. Meu tio já havia me dito que quando a gente se aposenta não pode vestir pijama e pantufas. Quem assim o faz, morre antes! A pessoa aposentada não pode se conformar e ficar somente entre as quatro paredes de sua casa. Há muito ainda por fazer, compartilhar, estudar, dedicar-se...

Para mim,  velhice é uma fase da vida, uma estação na estrada da vida. Felizes as pessoas que conseguem chegar nesta fase e desfrutar dos momentos e dos desafios que restam para experimentar alegrias, realizações, sonhos e projetos que podem ser elaborados ao longo dos últimos anos antes de entrar neste período da vida. Mais felizes ainda são as pessoas que se dispõem a se preparar para esta fase da vida.

Pois, nada é mais frustrante do que chegar à velhice e se perguntar: E agora, José? E agora, Maria?

João Artur Müller da Silva
63 anos – Teólogo e editor da Editora Sinodal – São Leopoldo/RS