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Lar para idosos: quando? Ou nunca?

Atender idosos obriga o médico a se inserir no contexto familiar do paciente. Não é raro a consulta encher a sala com filhos, noras, netos... todos querendo

expressar sua opinião ou mesmo se inteirar do que está acontecendo.  Em situações de dificuldade familiar em oferecer o melhor cuidado possível para o idoso em seu próprio domicílio, muitas vezes emerge na família a questão de institucionalizar (ou seja, colocar o idoso num “lar para idosos”). De novo, é um momento onde o médico aproxima-se muito da família. Dúvidas, opiniões sobre lares, culpa, assertividade – são necessidades e emoções que vêem à tona. 

Quando esses momentos chegam, geralmente é porque já não há mais condições da família dar conta de cuidar do idoso. Quedas freqüentes, troca do dia pela noite, relações matrimoniais desgastadas, depressão entre os familiares e, o que mais acontece, briga entre irmãos! Cuidar de um idoso com necessidades é muito complicado, muito mesmo. Muitas vezes, cabe ao médico fazer esse diagnóstico familiar e se posicionar quanto ao benefício da institucionalização.

É muito forte o estigma que lares para idosos possuem. Por ter um contato direto com lares há 3 anos, consegui desenvolver uma visão um pouco diferente sobre isso. Gostaria de não generalizar a minha opinião, pois não tenho contato com a maioria dos lares e sei que muitos enfrentam grandes dificuldades. No entanto, sou testemunha de que as vidas de muitos idosos e de suas famílias melhoram quando os mesmos vão para os antigos asilos. Os remédios são administrados na hora certa, pequenas alterações no estado de saúde são logo percebidas, médicos fazem visitas periodicamente, os idosos podem conversar e participar de atividades recreativas (o que é obrigado pela ANVISA!) 

Um fato triste é o crescente isolamento que os idosos enfrentam. Cada vez mais eles moram sozinhos, ficam sem parceiros por longos períodos, possuem poucas amizades e as visitas familiares são escassas. Ilustro esse fato com uma frase que ouvi no consultório dia desses: “Doutor, estava há 2 semanas sem falar com ninguém.” É impossível não se sensibilizar e não há antidepressivo que resolva! 

Tenho pacientes que foram morar em asilos por conta própria e relatam que agora “acordaram para a vida”. Os lares possuem essa capacidade de convívio, que acaba interferindo e muito na saúde dos residentes.

Há diversas formas de atender idosos com necessidades de cuidados. Em Porto Alegre há condomínio para idosos e em alguns lares os idosos passam os finais de semana com a família. O envelhecimento populacional logo pressionará para que novas formas de cuidado para os idosos sejam desenvolvidas e que lares tornem-se cada vez melhores. É uma situação que deve ser discutida... porque ninguém está isento de enfrentá-la logo ali.