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Antes de qualquer coisa, durma bem

Com o aumento significativo do peso da população, algumas doenças vão se tornando cada vez mais comuns. É o caso da apnéia do sono. Essa doença é

caracterizada por um sono muito ruim, com momentos onde a pessoa fica praticamente sem respirar (os quais chamamos de apnéia). É impressionante ler um laudo do exame chamado polissonografia! Durante uma noite, há pessoas que chegam a ficar sem respirar por mais de 200 vezes! Em geral acordam cansadas, engordam, são mais irritadiças, com maiores chances de ter depressão e também da doença de Alzheimer.               

Sabe-se que essa condição está relacionada a uma piora em 20% na função cognitiva ao longo do tempo. Quem tem apnéia do sono apresenta um declínio cognitivo muito mais rápido em comparação com aquelas que dormem bem. Além da apnéia obstrutiva do sono, a insônia também está relacionada ao aumento da atividade inflamatória do organismo, assim como uma redução importante na produção do nosso hormônio com maior poder antioxidante. Esse hormônio é chamado melatonina e é produzido apenas durante o sono, com a diminuição dos estímulos luminosos do ambiente. 

O sono apresenta uma relação bastante estreita com a memória. Sabe-se que grande parte do que aprendemos durante o dia é fixado após uma boa noite de sono – processo conhecido como consolidação da memória. Mesmo quem não tem um comprometimento cognitivo sabe disso: basta não dormirmos direito por uma noite, para percebermos o quanto ficamos com a cabeça aérea, além, é claro, extremamente irritadiços e sem ânimo para nada. Imagine isso por semanas, meses ou anos! 

Sobre a quantidade de horas dormidas, algumas evidências demonstram que ela está também relacionada ao risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. Seriam seis horas o bastante? Ou sete ou dez? As pesquisas concordam que dormir entre sete e oito horas de sono por dia apresentam um efeito protetor cerebral, enquanto dormir menos de seis horas seria altamente prejudicial.  No estudo publicado em 2011 no periódico Sleep, em que 28 mil chineses foram acompanhados, aqueles que dormiam entre três a quatro horas por noite apresentaram um risco 29% maior de desenvolver a doença. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de enfermeiras nos Estados Unidos, de 2006, que fez o mesmo tipo de acompanhamento com 15 mil mulheres. 

Ao pesquisar essas informações, me chamou muito a atenção sobre o impacto do excesso de horas de sono na capacidade cognitiva. Mesmo o sono sendo um momento fundamental para os processos da memória, dormir demais é ainda pior do que dormir de menos! Nesse estudo chinês, por exemplo, os participantes que dormiam mais de dez horas ao dia tinham um risco 52% maior de apresentar déficits cognitivos. No estudo das enfermeiras o resultado também apontou para esse grande malefício causado pelas horas a mais de sono. Difícil explicar o porquê dessa relação, mas acredito que possa estar relacionado até mesmo a questões de humor ou de sono fragmentado – que é menos eficiente.

Acordar cansado não é normal, assim como passar o dia todo irritado, ou com pouca disposição. Se você quer ter saúde, antes de qualquer coisa, durma bem.

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053
Mestre em Educação | Clínico Geral - Especialização em Geriatria PUCRS
Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN